domingo, 16 de agosto de 2009

Letícia Sabatella decifra a mente de uma psicopata

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Se você cruzar com Letícia Sabatella por aí, cuidado! Ela pode estar analisando a mente que há por trás de você. Quando a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva decidiu escrever 'Mentes Perigosas: O Psicopata Mora Ao Lado', não imaginava que, um ano depois, seu livro se tornaria sucesso de público ao ser usado como inspiração para uma vilã de novela. E não é uma vilã qualquer, é a Yvone, odiada por 10 entre 10 mulheres que assistem a 'Caminho das Índias'. Na reta final da trama, Letícia Sabatella, que brilhantemente dá vida à psicopata, cresce em cena e aumenta também a curiosidade acerca da construção de sua personagem. Afinal, Yvone tem ou não tem coração?

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Autora e criatura: Letícia recorreu ao livro de Ana Beatriz Barbosa para construir personagem

"A Yvone é a encarnação do egoísmo e da ilusão. A proposta que ela faz ao Raul (Alexandre Borges), de nascer para uma nova vida é maravilhosa. Traduz bem as características de um psicopata: frio, dominador e manipulador. Ela me deixa mais maliciosa", comenta a atriz, que, para dar veracidade à personagem, além de ler o livro de Ana Beatriz, conta com sua consultoria para ensaiar os capítulos.

Diferentemente de outras vilãs de sucesso na TV, a personagem criada por Glória Perez esbarra na realidade com pouca licença poética. À psiquiatra coube justamente o entendimento entre o lúdico e o real.

"Psicopatas não são doentes mentais. São pessoas 100% racionais, sem nenhum rastro de emoção, com uma predisposição genética à transgressão. Eles estão sempre manipulando situações para tirar proveito. Isso fica bem claro com a Yvone. Ela busca status, poder e diversão e é incapaz de se identificar com o sofrimento que causa nos outros, já que não tem afetividade. As pessoas com as quais se relaciona são peças de um jogo utilizadas para conseguir o que deseja", analisa a médica, que a classifica como psicopata moderada.

"Cerca de 4% da população mundial são psicopatas, sendo 1% 'serial killers' — facilmente identificáveis por sua característica sanguinária — e 3% leves e moderados. Os leves são os que cometem pequenos golpes e os moderados aqueles que buscam status, poder e diversão numa roda social mais alta. É o caso da Yvone, que não mata. Mas, se precisar, manda fazer", analisa Ana Beatriz. "Embora longe de serem maioria, todos deixam um rastro de destruição na vida das pessoas das quais se aproximam, pois as relações do psicopata são sempre de uso. Ele pode até não matar uma pessoa, mas mata sonhos, casamentos, inocências, fé", completa.

A dificuldade, segundo Ana Beatriz, está em identificá-los. Foi por isso que, incentivada por Glória Perez, decidiu escrever 'Mentes Perigosas'.

"É um livro para ajudar os 96% restantes da população a se defender desses predadores", conta. Geralmente sedutores, os psicopatas usam o que têm de melhor para atrair suas vítimas, como Yvone, por trás dos belos olhos e lábios rosados, esconde um verdadeiro lobo em pele de cordeiro. Em 'Caminho das Índias', a vilã não chega a matar ninguém, mas ainda irá perturbar a vida de muita gente. Depois de deixar Melissa (Christiane Torloni) com o rosto cheio de feridas ao presenteá-la com cremes contaminados, ela irá para a prisão. O corretivo não a intimida e ela deita e rola seduzindo e manipulando outros presos.

O grande final de Yvone, a autora Glória Perez já sabe. Mas está guardado a sete chaves. A psiquiatra Ana Beatriz não arrisca um palpite, mas descarta desfechos improváveis: "Morrer não é punição. Yvone merece perder o que tanto valoriza: seu poder."

Detalhes que fazem toda a diferença

Boa entendedora da mente humana, Ana Beatriz reconhece de longe um psicopata. "Todas as vilãs têm um belo traço de psicopata, mas sempre caíram na armadilha de enlouquecer no final. Quem não tem sentimento não enlouquece. A Yvone é a primeira a cair nesse erro", garante a psiquiatra. Flora (Patrícia Pillar), de 'A Favorita', por exemplo, foi uma vilã perfeita até 15 dias antes do final da novela, quando começa a cantar musiquinhas infantis e se mostrar louca ao relembrar sua infância. Para a escritora, a Nazaré (Renata Sorrah), de 'Senhora do Destino', é 'boarder'. "'Boarder' é aquela histérica, chave-de-cadeia. A Sílvia (Alinne Moraes), de 'Duas Caras', é cria da Nazaré", brinca. "A melhor para mim foi Laura (Cláudia Abreu), de 'Celebridade'. Ela chora, mas não de saudade, e sim de frustração", diz.

Psicopatas do cinema

Com inteligência acima da média, carismáticos e muitas vezes os melhores personagens da história, os psicopatas do cinema formam uma lista que rendem inúmeros assassinatos, muitos filmes e gordas arrecadações de bilheterias. Ao longo da história da sétima arte, eles marcaram presença, desde Norman Bates, papel de Anthony Perkins em 'Psicose', dirigido por Alfred Hitchcock, passando pelo impagável Hannibal Lecter, vivido por Anthony Hopkins em 'O Silêncio dos Inocentes', até o Coringa, que deu a Heath Ledger um Oscar póstumo de coadjuvante em 'Batman - O Cavaleiro das Trevas'.

Sempre sedutores, eles conseguem fazer a plateia se virar até contra o mocinho. Qual marmanjo não babou com a cruzada de pernas da louríssima Catherine, vivida por Sharon Stone, em 'Instinto Selvagem'? Além de um corpo perfeito, uma mente manipuladora e perigosa. Seduzida também ficou Clarice, personagem de Jodie Foster, pelo devorador de carne humana Hannibal (Anthony Hopkins).

Talvez 'O Silêncio dos Inocentes' retrate bem a curiosidade humana sobre os psicopatas e sua forma de pensar. Em vez da execução, Hannibal virou objeto de estudo, condenado cinco vezes à prisão perpétua.

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